domingo, 24 de janeiro de 2010

Memorial

Cícera Maria da Silva Guedes

“Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho impar.”
Carlos Drummond de Andrade.

Tomando como referência esses versos de Drummond, relatarei neste breve memorial experiências e recordações (e por que não vitórias ?) do meu namoro, noivado e casamento com a educação. Sou Cícera Maria da Silva Guedes (o “Guedes” veio do marido), 29 anos, casada, natural de Correntes-PE, professora de Língua Portuguesa.

Cursei a 1ª série do Ensino Fundamental na escola Jandira Pedrosa e, apesar de ter passado pelo pré-escolar, não sabia ler. E terminei a 1ª série em saber ler! Por quê?. Bom, no pré-escolar aprendi a reconhecer grafemas e fonemas e alguns números. E só. Quando cheguei à 1ª série, a professora era tradicional demais, tanto nos seus métodos de ensino/ aprendizagem quanto na sua forma de se relacionar com os alunos. Ela era fria, distante. Ensinava por silabação. Aprendi a ler sílabas. E só. Nessa série houve rotatividade de professoras e depois dessa professora vieram mais duas. Não me recordo do nome de nenhuma delas. A última professora foi a que mais me marcou, dada a sua agressividade. Ela gritava muito e nos colocava de castigo por motivos banais. E até eu fiquei de castigo (eu que sempre fui muito tímida e comportada!) só porque eu pedi um apontador emprestado a minha colega do lado e a professora pensou que eu estava conversando fora de hora. Foi horrível! Nós ficávamos em pé no canto da sala o restante da aula, de costas para os outros colegas. Recordo-me que fui para o castigo com o lápis (o qual eu queria fazer a ponta) e uma lâmina, e acabei me cortando. Desculpem-me se estou falando demais da 1ª série, mas ainda há outra coisa que quero falar: é como meus colegas e eu víamos a leitura. Nós imaginávamos que ler era uma atividade que a professora fazia e nós repetíamos. Estudávamos com uma cartilha. E na cartilha havia textos muitos famosos, com o texto “Rita”. Uma colega da classe já sabia o texto inteiro, pois havia decorado com a irmã que já havia “dado essa lição”. Sabe no que isso resultou? Muita gente da sala também decorou esse texto de tanto essa colega repeti-lo. Reconhecíamos os textos pelas gravuras. Eu sei do texto até hoje.

Vejam:


Rita

Rita vai ao rio.
Rita leva a lata.
Rita vê a vaca.
A lata cai.


No dia dessa lição eu recebi elogios (não só eu) porque havia conseguido “ler sozinha”. Como a professora era ingênua...

Passei de ano e fui para a 2ª série em outra escola, sem saber ler. E a coisa mudou de figura. A maioria da turma lia direitinho. Lembro-me como hoje das palavras de dona Elione, minha professora: “na 2ª série é necessário que o aluno já saiba ler. Você precisa ler sozinha, sem mim. Esforça-se. Você consegue”. Era isso que eu precisava ouvir. Quando eu chegava da escola, pedia ajuda a todo mundo em casa que me ensinar a ler. Passava boa parte do dia com o livro de português aberto, tentando descobrir “o enigma do ato de ler”. E consegui! E daí vieram os livros, os elogios, etc.

E assim concluí a educação básica. Tirava sempre boas notas em todas as disciplinas (minha mãe era muito exigente com os nossos estudos e exigia bons resultados _ meus e de meus irmãos). Fui influenciada a fazer letras acho que por causa de uma professora de português muito simpática e muito criativa: dona Juzí . Estudei com ela parte do meu Ensino Fundamental II e do Médio. Acabei me empolgando. Prestei vestibular na FACETEG/UPE para Letras e passei. Ao término da graduação, no 2ª semestre de 2002, recebi a láurea. Foi uma emoção só! Cursei a especialização em Língua Portuguesa em 2003 na mesma instituição.

Não tenho muito tempo de atuação na docência (apenas 9 anos), mas já trago comigo algumas boas experiências: recordo-me com saudade do fórum Mundial de Educação, em São Paulo, do qual participei em 2004; da participação do GELNE, 2004; da docência no PROGRAPE com duas Práticas de Ensino (II, III) e com a disciplina Conteúdo e Metodologia do Ensino de língua Portuguesa de 1ª à 4ª séries.

Hoje sou professora principalmente de português no ensino fundamental e médio da rede pública municipal e estadual. Sou professora de português porque descobri que as palavras possuem o poder de encantar, revelando para nós, leitores, seus doces mistérios em sua mil faces. Espero que meus alunos também (re)descubram o prazer de ler e se entreguem à contemplação das palavras. Acredito que o GESTAR II é um grande parceiro para a conquista desse grande objetivo, tão comum e almejado por todo professor.

Gosto de brincar com palavras. Eis duas de minhas brincadeiras: Ofício e Kit All Life Plus

Ofício

Dizem por aí
que nada se pode encobrir.
Mas qual é o meu ofício?
É revelar ou é fingir?

Ocultar os sentimentos,
revelar o que não vê...
Será isso maldade
não falar a verdade
e de si não saber
nessa arte de escrever?

Se fingir for meu ofício,
Revelar já não o é.
Mas me diga sem artifício
qual dos dois é mais propício:
revelar ou esconder?

Eis o enigma, leitor,
que passo agora a você:
se esconder ou se revela
nesse jogo de escrever?

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Ouça estes depoimentos.

_ Meu nome é Rachel e sempre tive problema com obesidade. Depois que passei a utilizar o Kit All life Plus minha vida mudou completamente. Consegui adquirir o “corpinho” que tanto sonhei e ainda fiz um tratamento de rejuvenescimento. Tenho 35 anos e as pessoas me dão de 20 a 25 anos e duvidam que eu já tenha sido gorda. O Kit é milagroso!

_ Olá! Eu sou Paulo e tenho 55 anos. Depois que fiz o tratamento com o All Life Plus adquiri uma performance físicas e sexual de invejar a qualquer um. Perdi aquela “barriguinha” e rejuvenesci facialmente cerca de 10 anos. Graças ao All Life Plus agora sou outro homem. Minha vida melhorou cerca de 100%.

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Observações:
I-Frete a contratar; II - Um Kit é o suficiente para o tratamento de um mês; III – Os resultados só serão obtidos após quatro meses de tratamento intensivo; IV – Recomendado para pessoas a partir de 18 ( dezoito) anos que não desenvolvem o senso crítico; V- Pessoas com apurado senso crítico são alérgicas aos produtos.




Portifólio


“Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes”.
Paulo Freire.


APRESENTAÇÃO


Este portifólio contém informações sobre o GESTAR II _ Língua Portuguesa. Tais informações dizem respeito ao cursista e ao curso em si. Ao final deste trabalho escrito, o leitor ainda pode obter informações sobre as atividades aplicadas com estudantes, incluindo resultados e amostras.


BIOGRAFIA


Cicera Maria da Silva Guedes nasceu em Correntes-PE, no dia 03 de maio de 1980. Estudou o Ensino Fundamental I nas escolas Jandira Pedrosa e Clarice Godoy. Já o Fundamental II e o Contabilidade estudou no Colégio Normal Municipal Dr. Antenor Alves Pedrosa. É graduada em Letras pela FACETEG/UPE e especialista em Programação do Ensino e Língua Portuguesa pela mesma instituição. É casada e reside em Correntes-PE.
Já trabalhou como professora – formadora no PROGRAPE (Programa de Graduação em Pedagogia da Universidade de Pernambuco), lecionando Prática de Ensino II e III e Conteúdo e Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa de 1ª à 4ª séries. Atualmente leciona Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Artes no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio nas redes municipal e estadual no município onde reside.


PAUTA DOS ENCONTROS


No dia 26 de fevereiro de 2009 iniciou-se o curso GESTAR II. A recepção aos cursistas se realizou com a execução do Hino Nacional, com o texto em slide “o Menestrel” e com a apresentação do curso efetivada pela coordenadora Jussara. Na seqüência houve a divisão das turmas de Português e Matemática. A professora Juzi Maria de Barros Ferreira e Souza coordenou uma apresentação pessoal com o grupo da Português e todos juntos estabeleceram o contrato didático. A Professora apresentou os slides “imagens: gênero intuitivo e sistematizado”. Foram orientadas duas atividade: atividade I : texto_ a casa ( leitura e produção dirigida); atividade II: texto_ tango ( leitura e produção dirigida).
O II encontro do GESTAR II realizou-se no dia 27 de fevereiro. A coordenadora Jussara leu a mensagem “A viagem”. Na seqüência a professora Juzí fez a leitura e explanação do guia. Também fez a exposição do TP3. Foi orientada a realização de uma atividade com o texto “traduzir-se”, de Ferreira Gullar. Pouco tempo depois houve apresentações e análise dos trabalhos. Após o almoço, foi efetuada a leitura “Bom dia”, de Ruth Rocha. Mais algumas atividades foram realizadas: a) planejar uma proposta de trabalho, em grupo, a partir do sorteio das páginas do TP3 ( aplicar, observar e trazer uma experiência no próximo encontro), finalizando com a apresentação das oficinas; b) Chico no Shopping; c) Horóscopo; d) Texto para enumerar; e) música de Zé Ramalho. Encerramento com o texto da Águia.
O III Encontro realizou-se no dia 18-04-09 da seguinte forma; dinâmica de acolhida e relato das experiências com a atividade de sala de aula e das leituras individuais em casa; realização e socialização da atividade extra 1 (gêneros textuais); apresentação da unidade 10 e atividades em grupo (1 e 2 p.58 e 59), seguida de socialização. Esse encontro finalizou com orientação para o desenvolvimento das atividades do avançando na prática.
No dia 02.05.2009 aconteceu o IV Encontro. Houve uma dinâmica de acolhida; relato das experiências da atividade de sala de aula; apresentação de pareceres sobre as leituras de casa e feedback das atividades realizadas TP4/AAA4 ( versão do professor e do aluno); orientação para elaboração do Portifólio, avaliação.
O V Encontro aconteceu em 30 de maio de 2009. Foi iniciado com uma dinâmica de acolhida seguida do relato das experiências com a atividade de sala de aula. Logo depois ocorreram as apresentações das conclusões a cerca das leituras feitas em casa. Foram realizadas e socializadas atividades da unidade 13 do TP4. após a pausa para o lanche, houve apresentação com uso data show e a sala foi dividida em três grupos para realização das atividades p. 58 TP4. Finalizou com a avaliação do encontro.
O VI encontro foi realizado em 12-06-2009, iniciado com dinâmica de acolhida, relato das experiências com a atividade de aula, apresentações das conclusões sobre as leituras feitas em casa. Foram realizadas e socializadas atividades p. 54 do TP4. Na seqüência, ocorreu a avaliação do encontro.
O VII Encontro aconteceu no dia 01-08-09, iniciado com uma dinâmica de memorização e descontração. Na seqüência houve os depoimentos dos cursistas, feedback através de registro oral e escrito das atividades realizadas. Também houve a leitura do poema Cidadezinha Qualquer, de Carlos Drummond de Andrade e explanação da sugestão da oficina “A Poesia Conta História e Conta Poesia”. Logo depois foi organizado um trabalho em grupo para planejamento da referida unidade. Foi apresentado o poema “trinta e três coisas à toa que me deixam feliz” e, finalizando o encontro, houve a avaliação e a assinatura da freqüência.
No VIII Encontro (22-08-09) a acolhida se deu através de dinâmica de memorização e descontração. Houve apresentação e leitura da pauta, feedback das atividades vivenciadas em sala de aula das unidades 13 e 14 do TP4 e socialização dos conteúdos. Também houve leitura e discussão dos conteúdos da unidade 14 e texto de apoio, versão do aluno etc.; distribuição e análise de avaliações diagnósticas ( primeira entrada); avaliação do encontro; assinatura da freqüência.
O IX Encontro aconteceu em 19-09-09 iniciado com leitura compartilhada (Só Pura Verdade_ Hans Cristian Andersen). Houve feedback das atividades vivenciadas em sala de aula das unidades anteriores do TP4 e das atividades avaliativas aplicadas. Também houve resumo dos textos do TP1/unidade1. Em seguida, avaliação e freqüência.
Em 26-09-09 os cursistas foram recebidos com citação de Clarice Lispector e dinâmica de acolhida. Nesse encontro foram realizadas as seguintes atividades : socialização das atividades do TP1; verificação do portifólio e memorial, música “Epitáfio” e texto “Faxina”; leitura do texto “Memorial_ A Narrativa da Própria História”; dinâmica com desenho retratando o texto Memória; apresentação com o uso do data show. Houve, por fim, a avaliação do encontro e o registro da freqüência.
Em 17-10-09, o XI Encontro do Gestar II foi iniciado partindo da reflexão acerca de uma citação de Leonardo Da Vinci: “ Aprender é nunca tem medo e nunca se arrepende”. Nesse encontro as atividades desenvolvidas foram divididas em três partes, todas elas baseadas em atividades de leitura e produção de texto. Finalizando, freqüência e avaliação do encontro.
O XII Encontro (21-11-09) foi, iniciado com os cumprimentos da professora-formadora e seqüenciado da seguinte maneira: leitura e reflexão da mensagem “Acordar”; leitura de memoriais; apresentação de portifólios, feedback dos encontros do TP2; dinâmica dos animais; divisão dos grupos para o TP5; realização de oficinas; textos de referência e avaliação.
O último encontro do GESTARII aconteceu em 12-12-2009, iniciado com uma dinâmica de acolhida e relato das experiências com a atividade de sala de aula e as lições de casa. Houve o estudo do TP6/ unidades 22 e 24, efetuado mediante uso de data show, leituras, e realização de atividades em grupo e socialização das mesmas, finalizando com o registro da freqüência e a avaliação do encontro.


CONSIDERAÇÕES FINAIS


Comecei a aplicar as atividades do GESTARII – Língua Portuguesa em março de 2009 numa turma de 5ª série “A” do Colégio Normal Municipal Drº Antenor Alves Pedrosa, escola da rede Municipal de ensino de Correntes-PE. A turma era composta por 34 alunos, em média 90% sem distorção idade/série e praticamente sem repetentes. Uma turma de alunos em que a maioria gostava de ler em voz alta. Mas detectei alguns problemas: a) os alunos “liam”, mas “ não compreendiam”, b) não compreendiam as instruções acerca das atividades ( ou pelos menos não se concentravam no que e como deveriam proceder); c) nas produções textuais sentiam muita dificuldade em redigir o gênero trabalhando ( por exemplo, quando trabalhei com eles o gênero bilhete, a maioria dos alunos teve de refazê-lo várias vezes porque o faziam como se estivessem fazendo um cartão); d) dificuldade em escrever corretamente palavras extremamente simples, como “ entendeno” ao invés de “entendendo”, entre outras. Em alguns casos, quando eu pedia para reescrever os textos, os alunos desistiam de refazê-los porque, segundo eles, não estavam habituados com essa prática. Lembro-me de um aluno que chegou a rasgar as páginas do caderno mais de três vezes para conseguir produzir o texto de acordo com as orientações dadas.
Mas eram crianças com grades potenciais: espertas, felizes e muito inquietas. Não foi um trabalho muito fácil nem para mim e nem para elas. Eu tive de me desdobrar muito e elas também tiveram de mudar e aprender novas formas de ler e escrever. O curso GESTARII proporcionou a formação de novos itinerários que permearam as práticas de ensino/aprendizagem. Consegui, ao longo do ano letivo, grandes melhorias no desenvolvimento das habilidades leitoras e escritoras dos alunos: ficaram mais críticos, mais concentrados e mais autônomos.
Eles concluíram o ano letivo ainda apresentando dificuldades com leitura e escrita, mas já não tão gritantes. Com a continuidade da aplicação do material do GESTAR II na sala de aula, acredito que muitas vitórias e alegrias serão alcançadas na educação.

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